22.7.11

O nada que diz tudo

    Foi então que ele abriu a página, mesmo sem nenhuma ideia formada na cabeça, e começou a escrever qualquer coisa, qualquer palavra, qualquer letra, que no mínimo fizessem sentido sozinhas, mas sua intenção era que elas fizessem parte do contexto. Para cada tecla apertada, percebia que suas ideias estavam sendo desgastadas e se tornando escassas a cada clic. Para que essa angustia não tomasse conta dele como o tédio o fez minutos antes, ele põe uma música qualquer que fica tocando no fundo de sua cabeça, apenas para que sua angústia pudesse se fortalecer; e ela chegava; bem devagarzinho. Ela não se dava ao trabalho de fazer o trabalho rápido e indolor, ela queria que ele sentisse na pele, de modo que ele sabia o que estava acontecendo mas não poderia fazer nada para impedir.
    Quando se dá conta do que está escrevendo, percebe que não está escrevendo nada. Mesmo com todas as palavras alí paradas, prontas para serem lidas, ele não teria dito nada, pois afinal, não haveria nada a ser dito. Se tivesse, é claro, alguma ideia, seria diferente.
    Ele para algum tempo para que possa haver alguma ideia de texto, mas infelizmente acha que escrever nada com nada pode ser interessante, e decide continuar, não sabe até onde, mas a continuidade a partir de agora é imprevisível. A música ainda toca em seus ouvidos, funcionando como um desafio de atenção, se escreve ou presta a atenção na música. Não precisa de concentração para escrever dessa vez. Não precisa de concentração para nada, pois não tinha nada que pudesse atrair, mais do que a música, que afinal nem era tão boa assim.
    Ele começa a pensar agora, quem perderá seu tempo lendo um texto que fala exatamente nada em sua essência, que pensará que haverá uma mensagem esclarecedora ao final, e realmente poderá encontrar, se não parou até aqui. Fica na dúvida se acabará o texto em aberto para estimular a criatividade das pessoas ou se colocará um final bonito e incentivador. Decide que as pessoas não tem imaginação e não entenderão o final bonito. Decide acabar com essa conclusão nada conclusiva, porque afinal, conclusão existe para coisas de verdade, e essa postagem não é nada. Nada mesmo.

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