6.6.11

Acidentes

    Mas como? Como poderia eu, em plena respectiva esquecer-me de fato tão grotesco, que afinal de contas, nem tão grotesco foi. Mas convenhamos: quem tem memória sempre lembra, e quem não tem, esse sim tem sorte grande. Gostaria que esse acidente pudesse ter afastado de minha cabeça fatos que me perseguem até hoje, assombrando minha alma, como se este já fosse da casa.
    O fato é que o acidente não serviu para nada, mas poderia ter servido se eu tivesse esquecido de algumas coisas que ainda posso lembrar, ou será que esse tipo de coisas estão guardadas no coração? Acho que não, pois meu coração foi arrancado de mim a tempos. Em verdade, eu o arranquei e o entreguei para uma pessoa, que não sei exatamente o que fez com ele; ou ainda faz. O acidente, então, não teria o poder talvez de me livrar dessas lembranças. Esse sonhos. Esses delírios. Essas ideias...
    O acidente na verdade, pouco tinha de acidente. Pela junção dos fatos, posso calcular que a culpa teria sido minha. Se minha cabeça conseguisse lembrar sseria melhor. E é sempre assim, coisas que precisamos saber, a cabeça esquece, e coisas que queremos esquecer, ela guarda. Talvez ela guarde pelo motivo de que estamos sempre pensando em tentar esquecer, ou seja, sempre pensamos que não queremos pensar; já pensando. Talvez ela guarde por que o coração não pode viver sem, ou por que você acha melhor não esquecer.
    O fato aqui é: você ainda lembra e sua cabeça foi trincada. Por quê? Poderia um dos dois terem me poupado, isso seria o mínimo. Gostaria de ficar com o segundo e esquecer o primeiro.
    Sim, como poderei esquecer se estou imortalizando agora? Tenho minha resposta escrita.
    Dois acidentes; um na cabeça e outro no peito. Porém, um de efeito imediato, enquanto o outro te queima até tu desistir da vida; te destrói por dentro. O próximo será aonde? Bem, esquecemos, pois tudo que está ruim pode piorar e, como de costume, sempre piora. O que podemos fazer é tentar se iludir com outras coisas...


... And there has always been laughing, crying, birth, and dying, boys and girls with hearts that take and give and break, and heal and grow and recreate and raise and nurture...

Nenhum comentário:

Postar um comentário